Hoje falarei da minha paixão pela estatística: a arte de torturar os números até que eles falem algo.
Temos de ter muito cuidado com as informações estatísticas apresentadas nas mídias por aí. Principalmente em época de eleição (como ainda estamos passando em alguns municípios).
Um exemplo banal: qual chance de uma mulher grávida ter um filho homem? A maioria responde 50%. E eu pergunto por quê. E a resposta geralmente é: “Ah! Porque só existem duas opções: homem e mulher”. Então faço a terceira pergunta: quando você compra um carro 0km, a chance de ele quebrar no primeiro dia de uso é 50%? Porque temos apenas duas opções: quebrar e não quebrar. A resposta geralmente é silêncio.
Aproveitando o exemplo anterior: é sabido que existem mais mulheres que homens no Brasil (e na maior parte do mundo). Com base nesta informação nascem mais homens ou mais mulheres no Brasil? Também quase todo mundo responde que nascem mais mulheres. Errado, por incrível que pareça nascem mais homens que mulheres. Segundo IBGE, do total de nascidos 51,4% são homens.
Por que então existem mais mulheres? Devido à taxa de mortalidade dos homens serem maiores que das mulheres, devido à vários fatores, alguns são óbvios demais, como por exemplo mortes violentas (assassinatos, acidentes, etc.), doenças cardiológicas. Esta desvantagem masculina começa no nascimento: 5,99% dos homens nascem mortos, enquanto entre as mulheres este índice cai para 4,36%.
Outra coisa é a forma de como os números são divulgados, veja a afirmação abaixo:
No Brasil existem 82.859.051 homens com menos de 80 anos e 85.190.198 mulheres também com menos de 80 anos.
Não podemos tirar muitas conclusões com números tão gigantescos assim.
Vamos mudar um pouco, então:
No Brasil existem mais de dois milhões de mulheres a mais do que homens (pra ser mais exato 2.295.147).
(Ops!!! Está sobrando mulher e ninguém me avisa!!!)
Vamos mudar mais um pouquinho a sentença (todas baseadas nos mesmo dados):
No Brasil, a população é divida em 49,32% de homens e 50,68% de mulheres. Ou seja, uma diferença de praticamente apenas 1%.
(Peraí!!! Cadê aquela mulherada sobrando lá de cima?!?)
Lendo está última afirmação, a diferença que antes parecia gritante agora já parece mais amena. E eu ainda posso escrever a mesma informação de uma maneira diferente:
Existem cerca de 103 mulheres cada 100 homens no Brasil.
Como podemos ver, existem várias maneiras de citar a mesma informação, sem mentir, e dar impressão de coisas completamente diferentes.
Ainda existem as pesquisas de opiniões, que dependem muito do tipo de amostragem realizada (pesquisa realizada apenas em regiões favoráveis a um resultado), da quantidade de pessoas entrevistadas (quanto menor o número de entrevistados, menor a precisão da pesquisa), da maneira como é realizada a pergunta (existem perguntas que induzem a uma resposta), etc. Ou seja, é possível fazer uma pesquisa “honesta”, mas que tenda a um resultado desejado.
Enfim, como diz o título deste post: a estatística não mente, mas podemos mentir usando a estatística.
* Os dados citados foram retirados do site do IBGE (onde, acreditem, não existe o cargo de Estatístico), e são referentes ao ano de 2000.
* Um bom livro sobre o assunto da má utilização da estatística é: The culture of fear, Barry Glassner; no Brasil: Cultura do medo, editora Francis. O foco é os Estados Unidos, mas dá pra fazer uma inferência ao Brasil facilmente. Se alguém souber de algum outro livro no estilo, por favor, informe-me.
Temos de ter muito cuidado com as informações estatísticas apresentadas nas mídias por aí. Principalmente em época de eleição (como ainda estamos passando em alguns municípios).
Um exemplo banal: qual chance de uma mulher grávida ter um filho homem? A maioria responde 50%. E eu pergunto por quê. E a resposta geralmente é: “Ah! Porque só existem duas opções: homem e mulher”. Então faço a terceira pergunta: quando você compra um carro 0km, a chance de ele quebrar no primeiro dia de uso é 50%? Porque temos apenas duas opções: quebrar e não quebrar. A resposta geralmente é silêncio.
Aproveitando o exemplo anterior: é sabido que existem mais mulheres que homens no Brasil (e na maior parte do mundo). Com base nesta informação nascem mais homens ou mais mulheres no Brasil? Também quase todo mundo responde que nascem mais mulheres. Errado, por incrível que pareça nascem mais homens que mulheres. Segundo IBGE, do total de nascidos 51,4% são homens.
Por que então existem mais mulheres? Devido à taxa de mortalidade dos homens serem maiores que das mulheres, devido à vários fatores, alguns são óbvios demais, como por exemplo mortes violentas (assassinatos, acidentes, etc.), doenças cardiológicas. Esta desvantagem masculina começa no nascimento: 5,99% dos homens nascem mortos, enquanto entre as mulheres este índice cai para 4,36%.
Outra coisa é a forma de como os números são divulgados, veja a afirmação abaixo:
No Brasil existem 82.859.051 homens com menos de 80 anos e 85.190.198 mulheres também com menos de 80 anos.
Não podemos tirar muitas conclusões com números tão gigantescos assim.
Vamos mudar um pouco, então:
No Brasil existem mais de dois milhões de mulheres a mais do que homens (pra ser mais exato 2.295.147).
(Ops!!! Está sobrando mulher e ninguém me avisa!!!)
Vamos mudar mais um pouquinho a sentença (todas baseadas nos mesmo dados):
No Brasil, a população é divida em 49,32% de homens e 50,68% de mulheres. Ou seja, uma diferença de praticamente apenas 1%.
(Peraí!!! Cadê aquela mulherada sobrando lá de cima?!?)
Lendo está última afirmação, a diferença que antes parecia gritante agora já parece mais amena. E eu ainda posso escrever a mesma informação de uma maneira diferente:
Existem cerca de 103 mulheres cada 100 homens no Brasil.
Como podemos ver, existem várias maneiras de citar a mesma informação, sem mentir, e dar impressão de coisas completamente diferentes.
Ainda existem as pesquisas de opiniões, que dependem muito do tipo de amostragem realizada (pesquisa realizada apenas em regiões favoráveis a um resultado), da quantidade de pessoas entrevistadas (quanto menor o número de entrevistados, menor a precisão da pesquisa), da maneira como é realizada a pergunta (existem perguntas que induzem a uma resposta), etc. Ou seja, é possível fazer uma pesquisa “honesta”, mas que tenda a um resultado desejado.
Enfim, como diz o título deste post: a estatística não mente, mas podemos mentir usando a estatística.
* Os dados citados foram retirados do site do IBGE (onde, acreditem, não existe o cargo de Estatístico), e são referentes ao ano de 2000.
* Um bom livro sobre o assunto da má utilização da estatística é: The culture of fear, Barry Glassner; no Brasil: Cultura do medo, editora Francis. O foco é os Estados Unidos, mas dá pra fazer uma inferência ao Brasil facilmente. Se alguém souber de algum outro livro no estilo, por favor, informe-me.
12 comentários:
Realmente.. Quantas pessoas não vêm nos atacar com esses números? Pior que o ser-humano é MUITO 'hipnotizante' através deles, e de qualquer outro.
Muito bom o post!
Abraço
Só você pra me fazer ler um post gigante deste sobre ESTATÍSTICA ! rsrs...E olha que fluiu bem o assunto...rs
Ahh e se tem mais mulheres que homens o importante é que o par certo se encontre rsrs...
Beijos krido :)
Recado dado !
É por isso que eu adoro a palavra e odeio os números kkkkkkkk
beijos
Nossa sou um pessoa que decididamente não combina com numeros...
Mas seu texto ficou otimo, bem explicadinho! rs
Obrigado pela visita ao Doce Cantinho, volte sempre viu!!!
Beijinhos
Estatisticamente falando:
Pecados = 0%
Muito amor = 99,99 %
É tudo ...
arrrrrrrrrrrrgh! números! uhauahah mas realmente a estatistica é fascinante, como toda mentira!
beijo!
Nossa, me sinto lisonjeada que perca seu tempo lendo minhas palavras jogadas. [em média 3 minutos por poema! ok, é só um chute, mas enfim depois de ler o seu post fiquei com vontade de mentir com números, se bem que não seu muito certo, isso aí.]
como pôde ver nas chaves, eu sou uma pessoa quase nada confusa.
o seu blog é realmente impactante, eu adorei. continue assim !
;*
ohhh querido...saudade de ler teus textos...Qndo vai publicar aqueles amorosos ? rsrs.. Manda pro meu e-mail que eu te dou a minha opinião de namorada :)(como sempre faço) Ahhh, pode também criar uma historinha com mensagem subliminar pra satisfazer sua amiga Vic..ela parece empolgada...hehe...beijo
Muito bom.
Bem escrito, didaticamente correto e principalmente Estatisticamente comprovado.
Grande abraço estatístico, pontual e não-paramétrico.
huahua
Sérgio.
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